Monólogo

“Interessante, muito interessante!” Um ser encapuzado tinha seus olhos fixos numa água turva represada. “Eles pensam que são evoluídos, mas quão atrasados são. Nem se dão conta disso. Se escondem uns dos outros. Tentam pelo menos. Aparentam ser de uma forma, mas tem outra por dentro.” Magro como seu cajado, ria alto, sem medo que alguém pudesse ouví-lo.

“Vocês podem tentar se esconder uns dos outros.” Apontou seu punho ossudo para a água turva. “Mas não podem se esconder do meu poço que tudo vê. Posso penetrar por seus olhos… ver suas almas… e encontrar o vazio. Sim! Vejo o vazio de suas vidas atarefadas insignificantes. Querem mostrar poder, mas não fazem a mínima ideia do que é o real poder. Querem ser melhor que os outros, mas não o são. Fracos fisicamente, mais fracos mentalmente. Magnífico! Diria que estão prontos. Ah sim, como estão prontos. E como se dividem… apesar de viverem em grupos. Os grupos se atacam e os desprezíveis também se atacam individualmente. Eles tentam se mostrar cordiais, mas são cruéis uns com os outros e com o lugar onde vivem. Como se existisse outro lugar para viverem suas vidas medíocres.”

De repente, parou. O ser ergueu o máximo que pôde suas costas curvadas. “Mas será que… será? Será que ela deu mais um passo?” Olhava para a ponta reluzente de seu cajado. “Ela teria me falado, não? Mas isso responde a muitas questões. Sim! Talvez seja isso. Talvez ela queira me mostrar que já estamos prontos. Que é o momento de retirarmos nosso capuz e nos mostrar.”

O ser encapuzado descobriu sua face e se olhou na água turva. Era tão enegrecida que mal conseguiu olhar seu próprio contorno. ‘Melhor assim.’ Teria dito se conseguisse se olhar através do reflexo dos seus olhos.

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