Dois Sobreviventes

Fonte Ilustração: https://www.fotolia.com/tag/eyes

 

Sua respiração estava mais ofegante que o normal. Seu pelos, Eriçados. Mantinha-se atento. Se não fosse por sua pelagem, já teria sentido o frio implacável daquele mundo esquecido até mesmo pela ardência da radiação de qualquer estrela que fosse.

Já se passara alguns dias desde que Garok se escondera entre os espessos galhos de uma árvore sem folhagem. Porém, esse não era o problema. Assim como ele, as criaturas daquele mundo eram desprovidas de uma visão privilegiada. No Mundo das Trevas, esconder não significa apenas deixar de estar visível, mas mais importante, manter-se imóvel, não fazer ruídos e posicionar-se sempre contra o vento. Garok vinha desempenhando bem as duas primeiras definições, mas ficar contra o vento é relativo quando não se sabe por onde vem a criatura.

‘Quem ou o que será que vem vindo?’ Indagava-se mentalmente entre um momento e outro de desatenção. Seus olhos, cerrados, deixavam que suas orelhas pontudas se movimentassem livremente por todas as direções a fim de perceber o ataque. ‘Serei eu ou ela a atacar? Quem é a presa, afinal?’

De repente, suas orelhas apontaram para a mesma direção e seus olhos se abriram. ‘O que quer que seja, acabou de se denunciar. Ainda não faço ideia do que ou quem seja, mas já fico mais tranquilo por saber que não é ele. Aquele desgraçado. Se fosse, já estaria morto.’

Com um movimento suave e veloz, Garok alcançou o o galho mais alto da árvore e se pôs no alto de sua copa. ‘Daqui de cima será mais fácil atacar ou me defender.’ Esboçou um estranho sorriso, de alívio talvez. ‘Quando matá-lo não temerei a mais ninguém.’ Sempre tentava se convencer quando seu grande medo invadia seus pensamentos.

Subitamente, Garok se revelou num pulo e avançou sobre a criatura que o havia obrigado a se esconder. “Você?!” Garok riu, controlando suas garras para não dilacerá-la. A criatura era infinitamente inferior tanto na parte física quanto na agressividade. A única semelhança entre eles era o fato de estarem tentando sobreviver. Os dois haviam permanecido escondidos um do outro ao se perceberem e travaram uma guerra psicológica. Porém, a criatura cometera um grave erro ao sentir-se segura e sair de seu esconderijo antes que Garok o tivesse feito.

Segurando-a pelo pescoço, Garok a ergueu e a aproximou de sua face para fulminar sua vontade de viver com seus olhos. “Você não valeu todo meu esforço. Não saciará minha fome e muito menos meu ego. Mas posso usar você para caçar uma presa maior.” E dizendo isso, Garok sufocou a criatura a ponto dela não conseguir mais emitir um ruído sequer. Suas pequenas garras ainda insistiam e suplicavam para que ele a deixasse ir, mas seus olhos fechados, contorcidos de dor, já davam sinais de desistência. Garok apenas sorriu mais uma vez.

Num mundo de sobreviventes, não vence o mais forte, mas vive aquele que melhor utiliza seus instintos e se adapta ao seu meio.

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